terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Para o INHOTIM não há resposta correta


"Sempre me pergunto se esses artistas contemporâneos têm alguma idéia de aonde vão chegar quando começam uma obra dessas". Com essa frase um dos Ricardos que conheci no Inhotim expressou sua consternação com aquilo que estava vivenciando. (Sim, um Ricardo foi comigo e ainda surgiram mais dois). Um executivo e um empresário paulistas... a velha necessidade de racionalizar. Em frente a eles um enorme Pinochio de bronze com uma caixa de madeira no lugar da cabeça, sentado sobre livros.

Brasileiros de vários lugares. Um grupo de franceses e outro de alemães também pude identificar pelos inúmeros e longos caminhos de pedra são tomé, perfeitamente desenhados. E desalinhados, como deve ser. Limpos, como não se poderia esperar naqueles dias chuvas e enchentes devastadoras para Minas Gerais.

I- N-H-O-T-I-N
Há 12 dias estou tentando encontrar a forma de falar sobre esse lugar. Não encontrei. Então decidi ir escrevendo pra ver no que vai dar. Assim como sugeriu meu colega de visita orientada.
"Parece com o que?" Me perguntam os amigos.  Imaginar que se está na Europa, nos Estados Unidos, não. Não consigo traduzir, mas me vêm a Disney. Tenho vergonha de dizer (que comparação absurda!). Mas é isso mesmo. Porque Inhotim tem tudo o que a Disney tem essencialmente:  perfeição, excelência, em oferecer uma experiência completamente inesquecível. Todos os detalhes, todos os momentos são inesquecíveis. Lá, para quem busca mergulhar no universo da fantasia da infância. Aqui, para quem ama a arte, o belo e a natureza. O design, a arquitetura, a gastronomia.
Sim, a arte é o ponto de partida. São nomes e obras que escrevem a história da arte contemporânea internacional. Galerias construídas (site-specific) para abrigar e dialogar com suas obras. Um trabalho realizado por alguns dos mais importantes curadores do mundo. Ok. Isso já seria o máximo. Mas é mais que isso. A experiência é completa. Restaurantes, bares, cafés, lanchonetes, aonde a comida, o design e a decoração é simplesmente um deleite. Tudo é feito com arte e perfeição.

Um dos integrantes do grupo pergunta: "De onde veio essa idéia de construir essa, essa... ilha, no meio do nada?" E a simpática mineira que nos orientava corrige: Acho que isso está mais para um Oásis... Pura verdade.
São jardins, instalações de arte contemporânea ao ar livre e mais de 500 obras de mais de 100 artistas  contemporâneos consagrados em todo mundo (30 nacionalidades) , em mais de 20 galerias de arte.
Tudo, absolutamente tudo, interagindo com a natureza. Todas as construções se curvam e homenageiam a natureza. E no ponto mais central, ele: o poderoso, magestoso Tamboril, pelo qual caí de amores. Quis abraçá-lo, quis ficar sentada aos seus pés, à sua sombra e sentir-me a filha pequena da natureza. A mais protegida das criaturas.
Tem noção do que é isso? Eu não consigo descrever.
Era um sonho visitar o Inhotim. Mas ele é muito mais do que eu poderia imaginar. Não vi tudo, não deu tempo em dois dias.
Me emocionei, chorei, sorri. Ao invés de fotografar as obras de arte, fotografei as copas das árvores e tentei registrar um esquilo que parou, me olhou e juro que me pediu passagem, com uma semente na mão. Eu dei.

Quem é capaz de conceber um lugar assim? Bernardo Paz. Eu o vi, cruzei com ele. Sozinho. No carrinho elétrico que conduz os visitantes para as galerias mais distantes. Ele me viu e sorriu, e com esse seu gesto e nossa cumplicidade, me senti à vontade para visitar aquele lugar, que pareceu ser o pedaço mais especial da sua casa.
Fiquei pensando no que se passa na cabeça dele. Soube que ele não dorme, não faz nada além de viver esse sonho. Eu posso imaginar exatamente como é isso. Porque eu mal dormi entre o primeiro e o segundo dia de visita. E pensar que ainda tem o projeto de inclusão e cidadania, que leva arte a crianças carentes de toda região...

Não dá para fotografar as obras nas galerias. Ufa, que bom. Porque eu não poderia distrair minha emoção para registrar nada. Porque prefiro relembrar e resignificar a cada lembrança...
Como na Marcenaria, de Victor Grippo, em que se vê a luz entrando pela fresta da janela e desenhando uma nova cena a cada minuto do dia. Delineando os objetos e móveis, trazendo vida e dramaticidade... É para mim uma foto em preto e branco que ficará gravada na retina... Eu queria ficar lá, parada, olhando aquela poesia em tempo real acontecer: a essência do que dá sentido a tudo que acredito ser a beleza de uma fotografia.
E o que dizer do som das 40 vozes independentes em um coral de caixas de som? Como ouvir sem fechar os olhos e estremecer. E ser remetido a outros tempos, outro universo? E dos sons capturados e amplificados  no Sonic Pavillion, a partir de um buraco de 200 metros de profundidade, que mostra que a terra vive, vibra e nos fala em ondas. 
E do iglu de Olafur Eliasson, onde podemos ver uma fonte de água que se move se transformar em cenas estáticas, através do simples uso da luz negra?

O que é Inhotim? Não há resposta correta. Assim como para a pergunta dos meus colegas daquela breve caminhada. Não dá pra dizer se o artista sabe ou não o resultado do que está criando. Porque mesmo com um belo projeto, a arte, o Inhotim, a vida, dependem de questões que a gente não tem controle. Daquilo que o observador constrói no seu mundo interior a partir da obra. Da interpretação, do olhar, do sentido que se conquista, que se ganha e que se dá.
Inhotim, como a vida, só vivendo, mesmo.

www.inhotim.org.br
Os nomes e autores das obras que citei: 
La Intimidad de La Luz em St. Ives, de Victor Grippo
Forty Party Motet, de Thomas Tallis
Sonic pavilion, de Doug Aitken
By Means of a Sudden, de Olafur Eliasson
Na foto: Narcissus Garden, de Yayoi Kusama


3 comentários:

Anônimo disse...

Rachel,
Não tenho nada a comentar...
Sua emoção fala por si só...
Agora é só relembrar, tudo...
Evani

Eliziane disse...

Que sonho lindo realizado querida! Parabéns!

Carol Azevedo disse...

Que máximo, Rachel! Tb sonho em ir prá e sentir Inhotim pelos teus olhos deu mais vontade ainda! Beijos e saudades, Carol

 

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