terça-feira, 8 de maio de 2012

Confiança não se conquista.

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Estive pensando sobre o sentimento de confiança.
Confiar no filho adolescente, confiar no marido, ou na mulher, confiar no amigo, confiar no funcionário...
Mas o que é mesmo confiar? E será que confiança de fato se conquista?
Sempre acreditei e usei essa frase... mas hoje eu acho que não é correta.
Penso mesmo que confiança é uma decisão. A gente toma, ou não toma.

A não ser que você seja ingênuo e simplesmente decida não usar o bom senso.. sempre haverá uma vozinha pra dizer "será que é isso mesmo?". E além dela, há milhões de vozes falando com a gente o tempo todo, na nossa mente tumultuada, dando mil versões para cada situação. Criando desconfiança.

Quando você vive nesse fluxo, fica difícil confiar, relaxar, deixar fluir... Nesse ritmo a gente sente que precisa controlar. Ter tudo nas mãos, as rédeas de tudo e todos...
Mas essa energia é tão terrível! Porque a gente se consome em possibilidades. E com o passar do tempo elas vão ficando aterrorizantes. Porque a mente é capaz de criar coisas incríveis.

Mas se você decide apenas confiar, acontece a mágica.
Dá uma leveza... Porque você deixa a responsabilidade nas mãos de quem é de direito. Ou seja, a verdade é que, por mais que você se considere o centro do universo, você não é o sujeito nessa história. O sujeito é o outro.
Mas e se o outro me trair?
Bem... isso é possível. Mas, que seja!...experimente deixar essa decisão na mão do outro. Pois é ele o sujeito. É ele quem vai decidir, oras. Quer você queira ou não.
Acho isso tão libertador!
E  será que a desconfiança irá evitar essa traição? Penso que é a confiança que vai estabelecer uma relação de outro padrão. Com menos pressão, mais leveza e responsabilidade.

Se o outro decidir trair sua confiança, em algum momento isso vai ficar claro.
Se você tiver o olhar para ver o que é real, o real vai se manifestar na sua frente.

Confiar na sabedoria do universo também é isso.
As coisas vão ficando claras para quem tem olhos para o outro, para o redor de si.


*foto de Rejane Ruiz

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Presente

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Fiz 37. E o peso desse número veio acompanhado de atribulações pertinentes à idade: responsabilidades, compromissos, buscas, encontros, desencontros, dores um tanto mais profundas, desencantamentos, revelações. Uma das revelações mais lindas, emocionantes, foi o presente abaixo.
Que ganhei do meu amor. Do homem que escreveu uma história comigo, cheia de desafios e de aprendizados. O homem que me presenteia todo dia com sua presença e sua força. E que nesse dia em especial, me presenteou com sua delicadeza, suavidade e sensibilidade. Tocou fundo meu coração.
Esse poema, que está no livro de Manoel de Barros, foi garimpado e encomendado de um sebo, edição do ano 2000, título Ensaios Fotográficos, Editora Record.

O Fotógrafo 

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha maquina denovo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma velha a desabar sobre uma casa. 
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski
- seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa 
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Panis et circenses

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"Eu quis cantar minha canção iluminada de sol, soltei os panos sobre os mastros no ar, soltei os tigres e leões nos quintais... mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer!
Mandei fazer de puro aço luminoso punhal, para matar o meu amor e matei: às cinco horas na avenida central. Mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer.
Mandei plantar follhas de sonho no jardim do solar.
As folhas sabem procurar pelo sol e as raízes procurar, procurar...
Mas as pessoas da sala de jantar, essas pessoas da sala de jantar, são as pessoas da sala de jantar.. são ocupadas em nascer e morrer."

Essa é para o meu amigo Marci Machado e a todos os que possuem alma de artista.
A música é dos Mutantes, aqui dá pra ver o vídeo na versão da Marisa Monte, minha preferida.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Para o INHOTIM não há resposta correta

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"Sempre me pergunto se esses artistas contemporâneos têm alguma idéia de aonde vão chegar quando começam uma obra dessas". Com essa frase um dos Ricardos que conheci no Inhotim expressou sua consternação com aquilo que estava vivenciando. (Sim, um Ricardo foi comigo e ainda surgiram mais dois). Um executivo e um empresário paulistas... a velha necessidade de racionalizar. Em frente a eles um enorme Pinochio de bronze com uma caixa de madeira no lugar da cabeça, sentado sobre livros.

Brasileiros de vários lugares. Um grupo de franceses e outro de alemães também pude identificar pelos inúmeros e longos caminhos de pedra são tomé, perfeitamente desenhados. E desalinhados, como deve ser. Limpos, como não se poderia esperar naqueles dias chuvas e enchentes devastadoras para Minas Gerais.

I- N-H-O-T-I-N
Há 12 dias estou tentando encontrar a forma de falar sobre esse lugar. Não encontrei. Então decidi ir escrevendo pra ver no que vai dar. Assim como sugeriu meu colega de visita orientada.
"Parece com o que?" Me perguntam os amigos.  Imaginar que se está na Europa, nos Estados Unidos, não. Não consigo traduzir, mas me vêm a Disney. Tenho vergonha de dizer (que comparação absurda!). Mas é isso mesmo. Porque Inhotim tem tudo o que a Disney tem essencialmente:  perfeição, excelência, em oferecer uma experiência completamente inesquecível. Todos os detalhes, todos os momentos são inesquecíveis. Lá, para quem busca mergulhar no universo da fantasia da infância. Aqui, para quem ama a arte, o belo e a natureza. O design, a arquitetura, a gastronomia.
Sim, a arte é o ponto de partida. São nomes e obras que escrevem a história da arte contemporânea internacional. Galerias construídas (site-specific) para abrigar e dialogar com suas obras. Um trabalho realizado por alguns dos mais importantes curadores do mundo. Ok. Isso já seria o máximo. Mas é mais que isso. A experiência é completa. Restaurantes, bares, cafés, lanchonetes, aonde a comida, o design e a decoração é simplesmente um deleite. Tudo é feito com arte e perfeição.

Um dos integrantes do grupo pergunta: "De onde veio essa idéia de construir essa, essa... ilha, no meio do nada?" E a simpática mineira que nos orientava corrige: Acho que isso está mais para um Oásis... Pura verdade.
São jardins, instalações de arte contemporânea ao ar livre e mais de 500 obras de mais de 100 artistas  contemporâneos consagrados em todo mundo (30 nacionalidades) , em mais de 20 galerias de arte.
Tudo, absolutamente tudo, interagindo com a natureza. Todas as construções se curvam e homenageiam a natureza. E no ponto mais central, ele: o poderoso, magestoso Tamboril, pelo qual caí de amores. Quis abraçá-lo, quis ficar sentada aos seus pés, à sua sombra e sentir-me a filha pequena da natureza. A mais protegida das criaturas.
Tem noção do que é isso? Eu não consigo descrever.
Era um sonho visitar o Inhotim. Mas ele é muito mais do que eu poderia imaginar. Não vi tudo, não deu tempo em dois dias.
Me emocionei, chorei, sorri. Ao invés de fotografar as obras de arte, fotografei as copas das árvores e tentei registrar um esquilo que parou, me olhou e juro que me pediu passagem, com uma semente na mão. Eu dei.

Quem é capaz de conceber um lugar assim? Bernardo Paz. Eu o vi, cruzei com ele. Sozinho. No carrinho elétrico que conduz os visitantes para as galerias mais distantes. Ele me viu e sorriu, e com esse seu gesto e nossa cumplicidade, me senti à vontade para visitar aquele lugar, que pareceu ser o pedaço mais especial da sua casa.
Fiquei pensando no que se passa na cabeça dele. Soube que ele não dorme, não faz nada além de viver esse sonho. Eu posso imaginar exatamente como é isso. Porque eu mal dormi entre o primeiro e o segundo dia de visita. E pensar que ainda tem o projeto de inclusão e cidadania, que leva arte a crianças carentes de toda região...

Não dá para fotografar as obras nas galerias. Ufa, que bom. Porque eu não poderia distrair minha emoção para registrar nada. Porque prefiro relembrar e resignificar a cada lembrança...
Como na Marcenaria, de Victor Grippo, em que se vê a luz entrando pela fresta da janela e desenhando uma nova cena a cada minuto do dia. Delineando os objetos e móveis, trazendo vida e dramaticidade... É para mim uma foto em preto e branco que ficará gravada na retina... Eu queria ficar lá, parada, olhando aquela poesia em tempo real acontecer: a essência do que dá sentido a tudo que acredito ser a beleza de uma fotografia.
E o que dizer do som das 40 vozes independentes em um coral de caixas de som? Como ouvir sem fechar os olhos e estremecer. E ser remetido a outros tempos, outro universo? E dos sons capturados e amplificados  no Sonic Pavillion, a partir de um buraco de 200 metros de profundidade, que mostra que a terra vive, vibra e nos fala em ondas. 
E do iglu de Olafur Eliasson, onde podemos ver uma fonte de água que se move se transformar em cenas estáticas, através do simples uso da luz negra?

O que é Inhotim? Não há resposta correta. Assim como para a pergunta dos meus colegas daquela breve caminhada. Não dá pra dizer se o artista sabe ou não o resultado do que está criando. Porque mesmo com um belo projeto, a arte, o Inhotim, a vida, dependem de questões que a gente não tem controle. Daquilo que o observador constrói no seu mundo interior a partir da obra. Da interpretação, do olhar, do sentido que se conquista, que se ganha e que se dá.
Inhotim, como a vida, só vivendo, mesmo.

www.inhotim.org.br
Os nomes e autores das obras que citei: 
La Intimidad de La Luz em St. Ives, de Victor Grippo
Forty Party Motet, de Thomas Tallis
Sonic pavilion, de Doug Aitken
By Means of a Sudden, de Olafur Eliasson
Na foto: Narcissus Garden, de Yayoi Kusama


sábado, 31 de dezembro de 2011

sobre 2011 & para 2012

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De tudo que surgiu, se revelou,
de tudo que marcou meu 2011,
o que mais ficou
desse ano-recém-passado
é o valor do agora.
O valor de fazer presente
o amor.
Não adiar.

Nem sempre a gente ganha
a segunda chance
pra permanecer...
Eu quero essa chance,
quero ela pra mim
quero usar todo o meu ser
quero meu coração aberto
meu sorriso largo
meu olho brilhando
e lágrimas soltas,
em 2012.

Quero ser mais inteira,
mais presente,
mais erros e riscos
pra ter muitos acertos
em novos caminhos.
E colocar o amor em dia, em gesto.

Mais valor às conquistas pra fortalecer os sonhos.
E ser sempre grata às ondas da vida
que me mostram a profundidade e a escuridão,
pra eu valorizar a luz e a mansidão.

Que venha o novo!
Novo ano, de novos dias
de novas horas, de novos minutos
de muitas inspirações e expirações,
que me levem à profundidade
de tudo em que eu possa mergulhar.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Que tal fazer diferente?

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Sentar na areia da praia, em posição de Budha, fechar os olhos, respirar ritmadamente por alguns minutos... Perceber que há espaço para muito mais ar do que poderia supor.. perceber que sou muito mais, muito maior, quando me conecto com essa força, essa perfeição que é a natureza e toda sua vibração e energia.
Que tal deitar na areia, como se ela fosse uma cama de natureza... na postura do cadáver (sim, a yoga nos faz aprender também com a morte, com a posição mais estática e repousante que pode existir...), mas ao invés de fechar os olhos, olhar para o céu e ver nuvens se movendo preguiçosamente, em pleno final de dia...
E aproveitar para pensar em tudo que a vida traz e leva de nós. Ouvindo as ondas do mar, que vão e vêm quebrar aqui perto... E deixar os pensamentos irem e virem, ir e vir, cá e lá.. ondas de pensamentos, sentimentos... estar vazio, estar repleto... de ar, de amor, de vida.
Hoje eu fiz isso... e por isso esse é o meu convite para você nesse final de ano. Praia, grama, rio... ou dentro do apartamento...
É final de um ciclo, mais um. Mais uma onda quebrando, mais uma garça que se aproxima, observa, pesca seu jantar e vai embora.
E eu fico. Fico ali sentada, agradecendo a Deus por me permitir quebrar os protocolos do que deveria ser uma simples caminhada no final de outro dia de férias.
Agradeço... e peço luz, imploro por equilíbrio, por conexão. Com a luz, A sabedoria que tanto busco e que tanto foge de mim.
Desejo luz a você, com quem compartilho esse momento mágico.

 

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